quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A idade da insensibilidade

Em meados do século passado, Clive Backster mostrava ao ocidente a significativa habilidade sensorial de um simples vegetal. Em um de seus experimentos pode-se constatar que algumas plantas tiveram uma relevante reação (medida pelo polígrafo) a partir da entrada de uma aranha no laboratório, provando com isso a percepção extra-sensorial contida nesses seres. Fato que havia passado despercebido por Darwin.
Incrível! No entanto enquanto nós médicos, psicólogos, assistentes sociais, direcionamos nossas intenções para um olhar macro e para um bem-comum, nem sequer conhecemos a pessoa que mora na casa ao lado.
Fora de nossos papéis, trivialmente alimentamos a prática condenável da invisibilidade social, ao ponto de trancarmo-nos em nossos carros, não percebendo quantas coisas acontecem lá fora. Temos a sensação de poder e egoísmo, incrivelmente semelhante a nossa vida intra-uterina.
Que tamanho tem essa venda que usamos para deixarmos de enxergar as misérias humanas escancaradas na sarjeta da sociedade?
Fechamos nossas portas, as janelas, trancamos nossas casas, naturalmente com um temor instintivo de alguma invasão. E como não poderia deixar de ser, tornamo-nos estranhos e raros quando em devaneio abrimos o coração para alguém.
Nos dias de hoje pensar muito e refletir, facilmente pode ser encarado como uma “perda de tempo”, assim, esse último se torna tão escasso, que nos preocupamos em gastá-lo com outras coisas consideradas mais importantes.
Naturalmente nos pegamos falando frente ao computador, mexendo em uma máquina ou simplesmente assistindo uma partida de futebol na televisão, mas é só conversarmos um pouquinho com nossos cães, gatos e plantas que facilmente somos encarados como “loucos”. O avanço tecnológico aproximou os negócios, pois facilitou a rapidez em qualquer transação econômica, e ao mesmo tempo distanciou as pessoas, por que cada vez menos nos movemos para um encontro pessoalmente, mas virtualmente estamos disponíveis quase que durante o dia todo. Lembro-me que há tempo soube de um pequeno povoado do pólo norte que em seu dialeto não existia a palavra “eu”, muito supostamente por que não conseguiam fazer nada sozinhos. Por outro lado, somente a partir do século IX, o ocidente iluminou a questão do individuo, nascendo desde assinaturas em obras de artes, até entre outras coisas, a psicanálise. No entanto ao que parece, a cada segundo falta-nos perceber que não estamos sós, e que precisamos das pessoas.
Como evitamos qualquer interrupção na “correria” diária para refletir, viajamos para longe de nossas cidades agitadas, e acreditando estarmos em paz, somos tomados pela preguiça, que nos deixa paralisados e passivos, enquanto poderíamos proporcionar um momento de buscarmos algo em nós - mesmo, e assim olharmos um pouco diferente para os outros.
Mas se uma planta reage a uma aranha, imaginemos quanto somos afetados sem ter uma noção consciente disto, do momento que acordamos até irmos dormir, interagimos com um número infinito de seres vivos
Será que estamos sujeitados insensivelmente aos estímulos externos, com um funcionamento que mais parece com os das maquinas, e mais ainda desejando o conteúdo que apenas aparentamos ser? Porque fazemos tanta questão de nos vestirmos impecavelmente, ao mesmo tempo em que nossa alma se sente nua, ou não sabendo o que vestir?



texto publicado em 04/set 2009

http://www.diariodeguarulhos.com.br/jornal/dgnews/jornal/materia.jsp?id=7538&ca=50;

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