quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O pacto de silêncio da perseguição psíquica- Assédio Moral

Caracteriza-se como assédio moral os maus-tratos que os indivíduos sofrem, principalmente, em seu meio de trabalho, fruto de uma lógica perversa manifestada em ações autoritárias e destruidoras das convivências pacíficas nesse ambiente. Esse terror psíquico envolve também relações amorosas, familiares, laborais, e sociais, mas é no ambiente de ambiente de trabalho que este acaba ganhando maior veemência.
Todavia vemos que toda conduta abusiva que se manifesta em palavras, atos, gestos, explícitos ou implícitos acarretando à integridade física e/ou psíquica, à dignidade afim de por em risco o emprego ou degradar o ambiente de trabalho, desde que essas condutas abusivas aconteçam de forma recorrente e sistemática.
Com freqüência percebemos que tais ações têm normalmente uma tendência ambígua, dissimulada, características especialmente perversas. Um olhar, a ausência de respostas, o sorriso sarcástico, o discurso aparentemente inofensivo que põe a prova incansavelmente questões como competência e valorização para o cargo, são gestos quase imperceptíveis utilizados pelo abusador. Vale ressaltar que esse comportamento se dá tanto dos superiores para os subordinados, quanto ao contrário e entre os pares.
Sempre existiram aspectos subjetivos conflitantes nas relações subjetivas, envolvendo sutis e mascarados abusos de poder, pensamos que talvez esse abuso apareça ao mesmo tempo da criação do trabalho. Pesquisas mostram relatos de maus-tratos e crimes contra a honra acontecendo em nosso país desde escravidão, passando pelo período de imigração, até os dias atuais. A industrialização no Brasil trouxe marcas das precárias relações de trabalho, onde os indivíduos não reconheciam seus direitos, tendo uma carga horária excessivamente alta, ilegalidade da mulher e de crianças sofrendo constantemente humilhações.
A modernidade com suas metas desproporcionais, cobranças excessivas por produção, exigências por adequações para várias funções simultâneas, na medida em que se tornam mais violentas, ásperas e cruéis, excedendo as proporções reais e funcionando de acordo com a lógica do grupo de trabalho, pode ser considerado também como um assédio moral.
A vítima do assedio moral vive quase que cotidianamente o dilema entre aceitar o abuso e manter o emprego, ou denunciar e perde-lo, além de sofrer conseqüências como sentimento de persecutoriedade, desestabilização, pressão, isolamento, estresse, raiva, insônia, tonturas, perda de concentração, irritação, distúrbios psicossomáticos, medo, queda na produção ou na qualidade do serviço prestado, além de sofrerem mais acidentes de trabalho. Importante salientar que as conseqüências crescem concomitantemente a duração do assédio.
Os indicadores nos mostram que os trabalhadores dos setores bancários, da saúde, de telemarketing e principalmente na educação, estão mais sujeitados a viver este tipo de evento. O sexo feminino aparece com maior predominância das vítimas.
O abusador perverso acredita de alguma maneira possuir certo poder sobre essas pessoas. Vêem em seu cargo, um espaço onde pode ocupar o papel social de dominador, possivelmente por suas dificuldades inconscientes no que diz respeito à vida afetiva, amorosa, pessoal, e como um ser social. Pessoas com tais características, hipoteticamente se relacionam de maneira muito peculiar em sua vida sexual, e dificuldade no contato com as artes.
Infelizmente estamos inseridos em uma cultura onde naturalmente aceitamos “engolir sapos” em nossas relações de trabalho, por isso nossos trabalhadores se tornam possivelmente mais vulneráveis a sofrer esse tipo de violência. Ademais a vítima deve tentar buscar apoio em seus familiares e colegas, além de procurar o sindicato e outras instâncias como a justiça do trabalho e a comissão de direitos humanos, reunindo provas a serem apresentadas.



texto publicado em 30/set/2009
http://www.diariodeguarulhos.com.br/jornal/dgnews/jornal/materia.jsp?id=8150&ca=50;

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