sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Por que não conseguimos morrer em paz?

Às vésperas de comemorarmos o nascimento do maior símbolo divino representativo do mito cristão, será que não seria a hora de questionarmos também suas representações e trajetórias?

Ao pensarmos em natal, nascimento, inevitavelmente deveríamos pensar em finitude, em morte. Porém, isso não ocorre, possivelmente porque somos direcionados a grande questão sem resposta de comum acordo: Onde começa a vida? Será que somente quando somos paridos da barriga de nossas mães consideram-nos vivos?

Um embrião, uma célula, uma intenção, um planejamento familiar onde os pais já decidem por conta própria à personalidade desejada ou indesejada de seus filhos, poderia ser considerada a origem da vida?

Nós no ocidente estamos distantes do pensamento que coloca a morte num viés iminente, possivelmente por que somos impedidos socialmente em aceitarmos nossas limitações e finitude, que afeta todas outras espécies que vivem, viveram e viverão nesse organismo chamado Terra, num contínuo término ininterrupto, onde idealizamos o infinito e não intensificamos o presente em sua plenitude.

Isso nos faz vivenciarmos o luto com grande sofrimento. Essa não aceitação nos afasta da grandeza de experimentar-mos a morte em seu sentido simbólico e universal, já que esta é uma condição natural.

Podemos nos imortalizar de diferentes formas, por exemplo, em nossos parentes, em nossas palavras, em nossas idéias, artes, ofensas, ou seja, em tudo que fizemos em vida consciente e inconsciente. No entanto, nossa história nos convida a crermos em continuações que fogem a ordem biológica da espécie. Estratégias que usamos como bengalas de apoio a intermitente dor de ser.

Sentimos medo de morrer, e medo de perder alguém que gostamos, e por que não, medo de desejarmos a morte de outros. Mas afinal de contas, o que é viver? Conheço pessoas de meia idade que parecem ainda não ter nascido, e outras tão vívidas que contagiam com seu equilíbrio e lucidez os que partilham o mesmo espaço subjetivo, aos que lêem obras escritas a centenas de anos atrás.

Nossas fixações, que nascem como defesas do ego de experiências mal elaboradas, mal entendidas, sublimadas, somatizadas, reprimidas, fazem nos apegarmos em compulsividades e repetições que em um primeiro momento parecem ser uma saída, mas ao contrário nos prendem e nos impedem de vivenciar profundamente nossos mistérios, nossos desejos, nossas sombras.

Para aprendermos a morrer precisamos entender e introjetar o desapego, entendermos que a vida muitas vezes ultrapassa o estado físico, religioso, biológico, ideológico. Entendermos talvez que algo tão frágil pode ser concomitantemente forte. Que vivemos morrendo, e podemos morrer em plena vida.

Feliz Natal a todos os leitores!

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