quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O patrocionio da paixão

O drible, o suor que respinga na corrida pela disputa da bola, o balançar da rede, o grito de gol e a comemoração podem estar ofuscados por um fenômeno que dificilmente é entendido, mas ao mesmo tempo é implacavelmente sentido. É certamente o momento onde a paixão deixa de ser o esporte e passa a ser as relações que este envolve.

Com a aproximação de um dos eventos mais importantes desse País, a Copa do Mundo de futebol, podemos tentar refletir sobre os motivos implícitos e explícitos que desperta esse fenômeno de massa. E que faz o País praticamente parar durante 90 minutos ou mais, para assisti-lo.

Os brasileiros crescem ouvindo que moram no País do futebol. Até quem não joga muitas vezes gosta de assistir. Mas com essas corporações que o envolvem onde estará a poesia da bola?

O futebol é um dos esportes mais praticados no mundo inteiro, principalmente nas regiões pobres e subdesenvolvidas. Possivelmente devido às condições de estrutura dinâmica, já que são necessários somente bola, jogadores e marcações de gol, sendo que essa bola pode ser improvisada de infinitas maneiras, restando absolutamente a vontade de jogar.

Fator que seria melhor aproveitado se as pessoas encarassem esse dom como criativo, como um lazer, como um refúgio dos problemas. Porém, na maioria das vezes, é visto como uma possibilidade profissional, resultando em uma demanda altíssima e uma busca refinada. Ou seja, muitas crianças e adolescentes deixam de se preparar para outras possibilidades por enxergarem - fatalmente- no futebol, uma trilha para o sucesso financeiro.

A maioria da população brasileira torce por um time de futebol, vibra, chora, briga, respira e transpira as cores da flâmula. Como uma religião, os institucionalizados torcedores perdem gradativamente a noção de indivíduo. Por isso, algumas vezes, deixam de responder por si e o fazem pelo time, mesmo sem se darem conta.

Muitos encontram até uma forma de exercer a cidadania através do futebol, numa expressão de nacionalismo extravagante, que impõe a todo instante o velho ame-o ou deixo-o, que indiretamente diz também odeie quem não o ama. A famosa receita fascista da noção de pertencimento.

O fanatismo esportivo me faz pensar que, se um cidadão torcedor do time A que tem como rival o time B, dificilmente assumiria as habilidades, se, por exemplo, o melhor jogador do mundo estivesse atuando no time B. Ou seja, possivelmente o torcedor do time A, de tão identificado com o clube-instituição, não se dê conta que a paixão dele não está no futebol, como um esporte e suas complexidades, mas sim em uma equipe esportiva particular, demonstrando com isso que essa sensação de pertencimento é mais importante do que o próprio futebol.

Outra receita constante é o próprio espetáculo. Na enorme multiplicação de ícones e imagens emitidas enfaticamente pelos meios de comunicação, assistidos como rituais, e contendo peculiares hábitos de consumo, como por exemplo, em frente ao aparelho televisor ou estádio, comendo e bebendo uniformizados, louvando gritos pré-estabelicidos, e muitas vezes ensaiados.

Nessa esfera são gerados, também, personalidades, celebridades, que parecem preencher a falta na vida real do homem comum, transmitindo a sensação aventureira, de felicidade e pertencimento, conferindo a aparência de integridade e sentido na vida social, onde o bem estar está diretamente atrelado à prática do consumo. E, assim, podemos entender que o futebol pode muitas vezes ser encarado como um fenômeno de massas, uma ferramenta perversa do capitalismo..




texto publicado em: 03/mai/2010 com o título: O patrocínio da paixão pelo futebol

http://www.diariodeguarulhos.com.br/beta10/f?p=181:4:1253075541923110::NO:4:P4_ID,P4_PALAVRAS:18570,O+patrocínio+da+paixão+pelo+futebol;

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