quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A utópica divisão entre ecologia e economia.

Há algum tempo percebemos discussões, reflexões e questionamentos sobre o que virá primeiro, o colapso econômico ou o colapso ecológico? Entendo, por assim, que são fenômenos iminentes em nosso tempo.
Talvez seja um tanto esquizofrênico separar a ligação entre esses setores. Ultimamente acompanhamos com freqüências catástrofes que afetam explicitamente de maneira direta as questões financeiras, como por exemplo a extensa fumaça de cinzas causada pelo vulcão na Islândia, que interrompeu o funcionamento dos aeroportos durante dias; a explosão da petrolífera no golfo do México, que se alastra e toma proporções gigantescas e devastadoras, desperdiçando petróleo e contaminando o meio; a umidade relativa do ar que tem oscilações anormais, causando stress, desanimo e consequentemente modificando a produção econômica; e outros tantos exemplos.
Algumas perguntas também não querem calar, como por que isso aconteceu? Sempre foi assim? Conseguiremos reverter essa situação?
Para isso vale a pena lembrar Shakespeare dizendo que no lugar de elaborarmos nossos problemas, ou melhor, atiramos nosso passado no abismo mas não nos inclinamos para verificar se está bem morto, alimentando, assim, cada vez mais, a nossa sombra, a nossa neurose. Por isso, não podemos separar nosso funcionamento psíquico do mundo externo, do universo, tampouco do mundo orgânico interno, microscópico. Se nossa sensibilidade nos permitir, veremos que em nossos sonhos, além de estarem contidos os conteúdos inconscientes, que podem nos ajudar na compreensão de si mesmo, somos influenciados pelo todo, pelo que chamamos de ambiente externo. Ao sonhar criamos imagens, situações oníricas, sensações, também conforme a temperatura, os barulhos, ruídos, ou qualquer outro estilo que venha do nosso quarto, casa, bairro, cidade, pais, planeta. Somos todos um mesmo organismo, possivelmente particular, mas ainda sim, partes de um todo, que denominamos de cosmos.
Em uma micro-análise, quando observamos os funcionamentos quânticos, atômicos, celulares, vemos várias semelhanças com funcionamentos de corpos macros. Nosso pensamento ocidental e moderno nos convida a uma divisão utópica de mundo, desfragmento elementos a fim de estudá-los, e se distanciando, assim, cada vez mais, da sensação de pertencimento nas diversas relações como eu-si mesmo, eu-outro, eu-natureza, eu-sociedade, eu-pais, pais-paises, etc.Todos como partes de um corpo fugiríamos do olhar individual, que não compreende as complexidades existenciais, que busca incessantemente provas mensuráveis, calculáveis , não percebendo as ligações rizomáticas, sincrônicas, das combinações inseparáveis que fazem a soma das partes ser maior que o todo.
Possivelmente com essa sensação de pertencimento causaríamos menos destruições ao planeta, e certamente seriamos mais conscientes sobre a importância do ser, enxergando nossa participação em tudo que existe, apropriando-se da responsabilidade que isso envolve. Acontece que, como muitas idéias de coletividade, de público, onde acreditamos que algo é de todos, acaba sendo de ninguém, numa dicotomia doente entre tudo e nada, que nos cega, e nos isenta dessa responsabilidade, enxergando somente o individuo, o umbigo, no lugar da cultura, do todo.


texto publicado em 2010
http://www.diariodeguarulhos.com.br/beta10/f?p=181:4:202506426924331::NO:4:P4_ID,P4_PALAVRAS:17958,A%20ut a%20divis entre%20ecologia%20e%20economia.

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